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1.3.5 Quinta medida: Incentivar as boas práticas – reconhecimento dos bons
órgãos e gestores por meio de indicadores objetivos
Uma forma através da qual o controle externo em critérios padronizados. Um consumidor não precisa
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pode atuar para reconhecer os bons órgãos e gestores ser especialista para escolher um bom produto, basta
consiste em adotar um índice que avalie o desempenho comparar as notas dos equipamentos. Da mesma forma
de programas e projetos de forma objetiva, como, por que aparelhos eficientes tendem a ser mais reconhecidos
exemplo, um índice de maturidade ou viabilidade. A clas- pelos clientes, melhores gestores/órgãos tenderão a ser
sificação de projetos com base nesses critérios forneceria reconhecidos pela sociedade. No contexto da gestão
um retorno útil aos responsáveis, ajudando-os a entender pública, um sistema semelhante pode ser estabelecido
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onde estão se saindo bem e onde precisam melhorar . para projetos e programas. Por exemplo, um “Índice de
Além disso, a qualidade dos projetos/programas ficaria Maturidade” poderia avaliar a robustez de um projeto,
mais evidente aos principais interessados, os contribuintes. considerando critérios estabelecidos em metodologias
validadas internacionalmente, tal como o Modelo de
A classificação aqui defendida é semelhante à dos Cinco Dimensões.
selos do Inmetro para eletrodomésticos, que se baseiam
1.4 CONCLUSÃO
A conclusão desse capítulo será feita na forma trutura. Prepondera nessa camada a tendência de se focar
de analogia, pois seu uso facilita a compreensão de em empenhar, gastar e planejar de forma rápida, e tem
problemas complexos e multicamadas como os tratados como consequência um sofrimento lento com decisões
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aqui. No caso, usaremos a figura do iceberg, uma imensa erradas que se arrastam por anos, minando a viabilidade
massa de gelo que flutua nas águas frias do oceano. e a eficiência das obras de infraestrutura.
No caso do iceberg, a pequena porção que vemos Desça ainda mais fundo nas águas geladas, onde a
acima da superfície da água é apenas uma parte da história, luz já é rarefeita. Nessa grande camada, você encontrará parte
assim como as obras paralisadas são apenas a parte mais da causa da imaturidade nas pressões de se investir rápido
visível de um problema muito maior. Um pouco abaixo da durante o curto prazo eleitoral, visto que o gasto público gera
superfície, nas camadas de gelo parcialmente vistas, estão a sensação de prosperidade e atrai votos, mesmo que no
os aumentos constantes de custos e prazos, e ligeiramente futuro esses projetos imaturos venham a naufragar.
abaixo está a redução da viabilidade. Esses problemas,
embora não sejam facilmente visíveis, têm um impacto Finalmente, na base do iceberg, onde a luz do
significativo na execução dos projetos, contribuindo para dia não alcança, rodeado pela obscuridade do mar de
o alto abandono das obras brasileiras. dados desconexos de projetos e contratos, que não fazem
qualquer sentido ao cidadão comum, estão a assimetria de
Agora, mergulhe um pouco mais e você começará informações e a baixa transparência real do desempenho
a ver as raízes mais profundas do problema. Na parte das obras passadas de infraestrutura, que prometiam
submersa do iceberg estão a imaturidade dos projetos desenvolvimento, mas que ninguém sabe se, de fato, o
e a falta de estruturas para refletir sobre quais seriam as geraram, e de quais cabeças vieram. Essa obscuridade
melhores alternativas para resolver os gargalos de infraes- suporta todas as camadas superiores, pois, sem uma
44 A teoria comportamental enfatiza a importância dos incentivos na motivação e no comportamento humano. De acordo com essa perspectiva, os incentivos positivos,
que incluem reconhecimento e recompensas, podem ter um papel significativo em induzir comportamentos desejáveis e melhorar o desempenho, especialmente na
administração pública. Portanto, reconhecer os gestores públicos e departamentos pelo bom desempenho não só os encorajaria a manter esse comportamento, mas
serviria como um exemplo para os seus pares.
45 É importante deixar claro que não se esquece, aqui, a função necessária da punição às ações que geram danos, porém é necessário reconhecer que só tentar punir não tem
produzido o efeito desejado. Assim, é indispensável punir aqueles que dão causa, mas também destacar aqueles que contribuem para o desenvolvimento do país.
46 Gentner e Maravilla (2018) explicam o poder da analogia como “a capacidade de reconhecer e raciocinar sobre uma estrutura relacional comum em diferentes contextos – é
um mecanismo central na cognição humana e um contribuinte fundamental para a cognição de ordem superior”.
47 Na Bíblia, são citadas analogias de Jesus para tratar de problemas mais complexos do que os presentes aqui.
O iceberg da infraestrutura: cOmO cOmbater a imaturidade, a inviabilidade e a paralisaçãO de Obras brasileiras

