Page 20 - controle-infra-tces-br
P. 20

20




            1.3.5  Quinta medida: Incentivar as boas práticas – reconhecimento dos bons
                   órgãos e gestores por meio de indicadores objetivos


                         Uma forma através da qual o controle externo   em critérios padronizados. Um consumidor não precisa
                                       44
                   pode atuar para reconhecer  os bons órgãos e gestores   ser especialista para escolher um bom produto, basta
                   consiste em adotar um índice que avalie o desempenho   comparar as notas dos equipamentos. Da mesma forma
                   de programas e projetos de forma objetiva, como, por   que aparelhos eficientes tendem a ser mais reconhecidos
                   exemplo, um índice de maturidade ou viabilidade. A clas-  pelos clientes, melhores gestores/órgãos tenderão a ser
                   sificação de projetos com base nesses critérios forneceria   reconhecidos pela sociedade. No contexto da gestão
                   um retorno útil aos responsáveis, ajudando-os a entender   pública, um sistema semelhante pode ser estabelecido
                                                           45
                   onde estão se saindo bem e onde precisam melhorar .   para projetos e programas. Por exemplo, um “Índice de
                   Além disso, a qualidade dos projetos/programas ficaria   Maturidade” poderia avaliar a robustez de um projeto,
                   mais evidente aos principais interessados, os contribuintes.   considerando critérios estabelecidos em metodologias
                                                                   validadas internacionalmente, tal como o Modelo de
                         A classificação aqui defendida é semelhante à dos   Cinco Dimensões.
                   selos do Inmetro para eletrodomésticos, que se baseiam


            1.4  CONCLUSÃO



                         A conclusão desse capítulo será feita na forma   trutura. Prepondera nessa camada a tendência de se focar
                   de analogia, pois seu uso facilita a compreensão de   em empenhar, gastar e planejar de forma rápida, e tem
                   problemas  complexos e multicamadas como os tratados   como consequência um sofrimento lento com decisões
                                   47
                          46
                   aqui. No caso, usaremos a figura do iceberg, uma imensa   erradas que se arrastam por anos, minando a viabilidade
                   massa de gelo que flutua nas águas frias do oceano.   e a eficiência das obras de infraestrutura.
                         No caso do iceberg, a pequena porção que vemos   Desça ainda mais fundo nas águas geladas, onde a
                   acima da superfície da água é apenas uma parte da história,   luz já é rarefeita. Nessa grande camada, você encontrará parte
                   assim como as obras paralisadas são apenas a parte mais   da causa da imaturidade nas pressões de se investir rápido
                   visível de um problema muito maior. Um pouco abaixo da   durante o curto prazo eleitoral, visto que o gasto público gera
                   superfície, nas camadas de gelo parcialmente vistas, estão   a sensação de prosperidade e atrai votos, mesmo que no
                   os aumentos constantes de custos e prazos, e ligeiramente   futuro esses projetos imaturos venham a naufragar.
                   abaixo está a redução da viabilidade. Esses problemas,
                   embora não sejam facilmente visíveis, têm um impacto   Finalmente, na base do iceberg, onde a luz do
                   significativo na execução dos projetos, contribuindo para   dia não alcança, rodeado pela obscuridade do mar de
                   o alto abandono das obras brasileiras.          dados desconexos de projetos e contratos, que não fazem
                                                                   qualquer sentido ao cidadão comum, estão a assimetria de
                         Agora, mergulhe um pouco mais e você começará   informações e a baixa transparência real do desempenho
                   a ver as raízes mais profundas do problema. Na parte   das obras passadas de infraestrutura, que prometiam
                   submersa do iceberg estão a imaturidade dos projetos   desenvolvimento, mas que ninguém sabe se, de fato, o
                   e a falta de estruturas para refletir sobre quais seriam as   geraram, e de quais cabeças vieram. Essa obscuridade
                   melhores alternativas para resolver os gargalos de infraes-  suporta todas as camadas superiores, pois, sem uma


                   44  A teoria comportamental enfatiza a importância dos incentivos na motivação e no comportamento humano. De acordo com essa perspectiva, os incentivos positivos,
                     que incluem reconhecimento e recompensas, podem ter um papel significativo em induzir comportamentos desejáveis e melhorar o desempenho, especialmente na
                     administração pública. Portanto, reconhecer os gestores públicos e departamentos pelo bom desempenho não só os encorajaria a manter esse comportamento, mas
                     serviria como um exemplo para os seus pares.
                   45  É importante deixar claro que não se esquece, aqui, a função necessária da punição às ações que geram danos, porém é necessário reconhecer que só tentar punir não tem
                     produzido o efeito desejado. Assim, é indispensável punir aqueles que dão causa, mas também destacar aqueles que contribuem para o desenvolvimento do país.
                   46  Gentner e Maravilla (2018) explicam o poder da analogia como “a capacidade de reconhecer e raciocinar sobre uma estrutura relacional comum em diferentes contextos – é
                     um mecanismo central na cognição humana e um contribuinte fundamental para a cognição de ordem superior”.
                   47  Na Bíblia, são citadas analogias de Jesus para tratar de problemas mais complexos do que os presentes aqui.





                                         O iceberg da infraestrutura: cOmO cOmbater a imaturidade, a inviabilidade e a paralisaçãO de Obras brasileiras
   15   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25