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                   e antever os problemas para poder executar a ação de   De acordo com o fundo, isso aprimoraria “a qualidade dos
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                   forma rápida .                                  projetos preparados e, com a identificação dos projetos
                                                                   inviáveis ainda nas fases iniciais, reduziria o potencial
                         Pensar de forma “lenta” implica dedicar tempo e   desperdício de recursos” (ibid.).
                   recursos para a compreensão do projeto de infraestrutura.
                   Envolve a realização de estudos abrangentes e a avaliação   O TCU vem destacando o Modelo de Cinco Dimen-
                   dos riscos. Esse processo de maturação da decisão é funda-  sões, o Five Case Model, como uma boa prática para melhorar
                                                                                      38
                   mental para evitar erros, identificar possíveis obstáculos   a maturidade de projetos . Esse método é utilizado pelo
                   e desenvolver estratégias sólidas. A reflexão cuidadosa e   governo do Reino Unido e de outros países e segue princípios
                   a tomada de decisões bem informadas são necessárias   do G20 para avaliar e estruturar projetos de infraestrutura.
                   para garantir que o projeto seja concebido de maneira   Esse método fornece uma organização clara para a tomada
                   adequada. Isso tudo é facilitado quando o país dispõe de   de decisões e mitiga projetos imaturos e inviáveis. Esse
                   critérios claros para a estruturação de projetos.  modelo foi adaptado para o país em 2022 (BRASIL, 2022).

                         Para incentivar esse modelo mental de tomada de   A aplicação do Modelo de Cinco Dimensões oferece
                   decisão, o controle externo pode incentivar boas práticas que   vários benefícios na estruturação de projetos de infraestru-
                                                                      39
                   levem a métodos de estruturação de projetos padronizados, a   tura . Em primeiro lugar, ajuda a garantir que os projetos
                   ponto de promover um aumento da maturidade dos projetos.  sejam bem fundamentados em uma análise abrangente. Isso
                                                                   reduz o risco de decisões tomadas com base em informações
                         Nesse mesmo sentido, o FMI (2018) recomenda   incompletas ou imprecisas. Outro benefício desse modelo é
                   que o Brasil deveria “exigir avaliações de projetos e critérios   a capacidade de identificar e mitigar potenciais problemas
                   de seleção padronizados, inclusive comparando-os espe-  e riscos antes da implementação.
                   cificamente com as prioridades estratégicas do governo”.



            1.3.3  Terceira medida: Incentivar análises realistas com base em classes de
                   referência – filtros para barrar projetos potencialmente inviáveis

                         A terceira medida se torna mais efetiva se for   classe de referência”. Ela foi desenvolvida a partir das
                   realizada com as duas anteriores. Resultados transpa-  teorias de tomada de decisão em ambientes de incerteza
                   rentes à sociedade podem motivar os gestores a procu-  criadas pelo ganhador do Prêmio Nobel de Economia Daniel
                   rarem ferramentas de estruturação dos projetos, visto   Kahneman. Esse método recebeu o respaldo da American
                   que seus sucessos ou fracassos serão públicos. Porém,   Planning Association (APA) e do Tesouro do Reino Unido,
                   apenas tomar decisões com um processo organizado não   e está sendo aplicado com sucesso em vários países.
                   é suficiente para garantir que os projetos sejam viáveis.
                   É necessário que os custos e prazos não sofram de um   Em seu trabalho “From Nobel Prize to Project
                   excesso de otimismo, nem sejam deturpados.      Management: Getting Risks Right”, Flyvbjerg (2006) explica
                                                                   em detalhes as características desse método, composto
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                         Uma das melhores metodologias  para reduzir   de etapas simples que pregam uma visão externa do
                   essas falhas foi desenvolvida pelo professor Bent Flyvbjerg,   problema com base em projetos semelhantes. Em síntese,
                   da Universidade de Oxford, chamada de “Reference Class   o método pode funcionar como um filtro para barrar
                   Forecasting”, ou, em português, “previsão com base em   projetos potencialmente inviáveis. Com base no histórico



                   37  Um exemplo bíblico que reforça essa ideia é contado em Mateus 7:24-27. O sábio escolheu um local sólido para construir sua moradia e dedicou tempo para ter uma base
                     forte antes de erguer a casa. Já o construtor insensato agiu precipitadamente, sem se importar com a qualidade da fundação, e sua obra não resistiu às adversidades.
                   38  Esse modelo foi citado nos relatórios do Acórdãos 2.579/2021 e 1.472/2022 do Plenário do TCU.
                   39  As propostas que utilizam essa metodologia fazem cinco perguntas chave: O projeto é estrategicamente necessário? O projeto entrega a melhor relação custo-benefício
                     para a sociedade? O projeto possui o modelo de contratação mais adequado? O projeto pode ser custeado? O projeto pode ser entregue na prática?
                   40  O Departamento de Transporte do Reino Unido decidiu adotar a “Reference Class Forecasting” (FLYVBJERG, 2006) como parte do processo de avaliação de grandes projetos
                     de transporte. Mais recentemente, em 2021, o Guia Geral de Análise Socioeconômica de Custo-Benefício de Projetos de Investimento em Infraestrutura (BRASIL, 2021),
                     desenvolvido pelo então Ministério da Economia, destacou que “no desenvolvimento da proposta de investimento é preciso evitar o viés de otimismo (optimism bias) que
                     costuma afetar premissas, projeções e orçamentos”.





                                         O iceberg da infraestrutura: cOmO cOmbater a imaturidade, a inviabilidade e a paralisaçãO de Obras brasileiras
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