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                   de aumentos de custos e de prazos de projetos anteriores   Ressalta-se que esse método não substitui estudos
                   de uma mesma classe (por exemplo: rodovias, ferrovias,   de viabilidade, nem projetos. Além disso, não deve ser utili-
                   barragens, olimpíadas, etc.), as estimativas do projeto   zado para orçamentação da obra, pois aumentos históricos
                   atual podem ser testadas.                       podem ser injustificados, devido a superfaturamentos e

                         Por exemplo, imagine que um determinado   corrupção, entre outros. Ele é simplesmente um método
                   projeto de ferrovia foi estimado com um custo de R$ 10   que adiciona uma análise experimental de risco no momento
                   bilhões e tenha um benefício socioeconômico de R$ 12   da tomada de decisão, com base em empreendimentos
                   bilhões. Numa análise apenas com os dados do projeto,   semelhantes anteriores. Ou seja, ele permite avaliar se um
                   tenderíamos a considerar que é um bom projeto, visto que   determinado projeto é realmente viável, mesmo quando
                   apresenta um retorno à sociedade de R$ 2 bilhões. Porém,   os custos para o contratante e os benefícios são avaliados
                   se olhássemos para os resultados anteriores de ferrovias,   com base em experiências passadas (GRUBBA et al., 2017).
                   veríamos que elas custam em média 50% a mais do que o
                   planejado (valor hipotético, pois o valor correto deve ser   Diante do exposto, entendemos que uma maneira
                   fruto de estudo sobre a base de dados do país). Com essa   de melhorar as estimativas de custo-benefício no Brasil é
                   informação, os resultados da análise mudariam. Ao invés   complementar as avaliações tradicionais com uma análise
                   de investir no projeto, ele seria considerado como poten-  empírica de risco que leve em consideração os resul-
                   cialmente inviável. O custo provável seria de R$ 3 bilhões   tados de projetos similares anteriores. Em resumo, esse
                   a mais do que o retorno à sociedade, e o projeto poderia   método atua como um filtro que rejeita projetos poten-
                   ser descartado ainda no papel, abrindo espaço para que   cialmente inviáveis, permitindo o estudo de alternativas
                   outras e melhores alternativas pudessem ser testadas.   mais adequadas para atender às demandas da sociedade.


            1.3.4 Quarta medida: Monitorar a evolução dos investimentos
                   em obras públicas – incentivar uma cultura de coleta,

                   tratamento e análise de dados

                                                                                 42
                         Como a tragédia de paralisação de obras decorre   empreendimentos . Até porque, como é notório, mesmo
                   em grande parte das mazelas anteriores – imaturidade de   as obras conclusas não estão isentas de problemas. Além
                   projetos e inviabilidade de obras –, o tratamento dos males   disso, não se sabe até que ponto as obras finalizadas estão
                   anteriores, por dedução lógica, contribuirá em larga escala   operando e/ou foram, de fato, as mais necessárias. Ou
                   para a redução da paralisação de obras.         seja, é indispensável que se avance para uma metodologia
                                                                   baseada em evidências a fim de apurar as variáveis que
                         Adicionalmente, é preciso que se implante uma   efetivamente contribuem, as que atrapalham e as que
                   cultura de coleta, tratamento, análise de dados, bem como   são indiferentes para a conclusão dos empreendimentos.
                   de decisões baseadas nos mesmos, reunindo atributos rele-
                   vantes de todas as obras públicas do país . Nesse ponto, é   Dentro dessa proposta, sobressai a perspectiva
                                                41
                   preciso destacar que o passo fundamental é dispor de um   positiva, advinda da Nova Lei de Licitações e Contratos
                   cadastro único que permita a identificação da integralidade   (Lei nº 14.133/2021), que traz diversos instrumentos inova-
                                                                       43
                   das obras, anseio esse que vem sendo postergado desde, pelo   dores  e o recente desenvolvimento da inteligência artifi-
                   menos, o Acórdão 1.188/2007-TCU-Plenário (BRASIL, 2007).  cial. Todo esse promissor cenário demanda que os órgãos
                                                                   de controle acompanhem de forma sistemática a situação
                         Nessa mesma lógica, há de se desenvolver uma   e a evolução das obras no país, incluindo, obviamente,
                   inteligência sobre os parâmetros de acompanhamento dos   aquelas que enfrentarem dificuldades na sua execução.


                   41  A primeira proposta deste capítulo focou nas obras de maior porte. A presente recomendação é compatível para ser implementada em todos as obras que usam recursos públicos.
                   42  A pesquisa de GOMES (2023) já desenvolveu modelos abarcando: (i) o valor das obras; (ii) a instância da obra (estadual ou municipal); (iii) o tipo de contratada (EPP,
                     consórcio, empresa normal ou MEI); (iv) a tipologia da obra; (v) o tipo de problema durante a execução; e (vi) ao fato de ter ou não sido auditada.
                   43  Os instrumentos da nova lei de licitações seriam: bônus de eficiência, programas de integridade, matriz de risco precificada, aumento do percentual de seguro-garantia,
                     adoção de critérios de sustentabilidade relativos à vida útil da obra e indução ao uso do BIM, entre outros. Todos esses instrumentos são aptos a serem implementados e
                     testados, no intuito de melhorar o desempenho das contratações públicas como um todo.





                                         O iceberg da infraestrutura: cOmO cOmbater a imaturidade, a inviabilidade e a paralisaçãO de Obras brasileiras
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