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                   equipes precisariam de algum elemento para subsidiar   segurança e credibilidade a este novo modelo de Inves-
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                   quem vai decidir)” .                            timentos e de gestão regulatória da malha ferroviária
                                                                   brasileira.” (ibid.). Todo esse cenário contribuiu para
                         O relator do processo, Ministro Augusto Nardes,   a descontinuidade do programa, sem que nenhum
                   asseverou em seu voto que o referido programa tratava de   projeto fosse implementado dentro do referido modelo
                   mais um caso de fragilidade no planejamento, “marcado   de negócio.
                   por completa inexistência de estudos capazes de conferir


            1.2.2  Segunda chaga – O intrincado problema da inviabilidade: estouros de
                   custos, de prazos e antieconomicidade


                         Os constantes acréscimos nos custos e prazos das   Apenas para exemplificar, o Estádio Nacional
                   obras de infraestrutura têm se mostrado um problema   Mané Garrincha, construído em Brasília para a Copa do
                   mundial e recorrente que afeta a eficiência dos investi-  Mundo de 2014, é um perfeito retrato da extrapolação de
                   mentos públicos, prejudicando muitas vezes a viabilidade   custos. Inicialmente orçado em R$ 600 milhões, o estádio
                   socioeconômica dos empreendimentos.             consumiu cerca de R$ 1,5 bilhão, e o pior, não é muito
                                                                   utilizado na sua senda esportiva.
                         De acordo com um dos maiores especialistas do
                   mundo em gestão de projetos, o professor Bent Flyvbjerg,   Acréscimos nos custos e prazos das obras públicas
                   da Universidade de Oxford, o fracasso de planejamento em   estão intimamente ligados a uma concepção imatura que
                   megaprojetos não é exceção e, sim, uma regra. O referido   culmina em projetos e contratos apressados, incompletos
                   pesquisador concluiu com base em estudos estatísticos   e falhos. A alocação de recursos em projetos inviáveis leva
                   robustos que menos de 1% dos projetos terminam dentro do   a um ciclo de ineficiência. Quando um projeto não gera
                   orçamento, no prazo e alcançando os benefícios estimados   retorno (benefícios maiores do que seus custos) e, mesmo
                   (FLYVBJERG e GARDNER, 2023).                    assim, ainda recebe investimentos, esses recursos, ao
                                                                   invés de gerarem desenvolvimento, só prejudicam o país
                         Infelizmente, o Brasil não foge à regra. São inúmeros   e impactam o meio ambiente de forma desnecessária.
                   os casos de fracassos das estimativas de custos e prazos de   Além disso, existe a questão do custo de oportunidade :
                                                                                                           20
                   megaprojetos de infraestrutura , públicos ou com parcerias   a alocação de recursos em obras inviáveis significa que
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                   privadas. Segundo o Fundo Monetário Internacional (2018),   outras obras serão negligenciadas ou não receberão os
                   os principais projetos de investimentos brasileiros têm   recursos necessários em um dado momento.
                   atrasos e excesso de custos bastante significativos.





















                   18  O Relatório do Acórdão 1.205/2015-TCU-Plenário destaca trecho de resposta de e-mail de gestor sobre a falta de estudos: “O TCU aponta a inexistência de estudos, o que
                     não é o caso. Houve diversos estudos e avaliações. O que não houve foi a materialização de tais estudos em relatórios ou documentos. Um estudo não é um relatório! O
                     relatório é somente uma forma de materializar um estudo. No caso de decisões importantes é comum (em qualquer organização) que os escalões superiores tomem como
                     base apresentações sucintas (como as ‘lâminas de PowerPoint’). Não é razoável querer que um Ministro leia um ‘estudo’ de 200 páginas para então tomar uma decisão. Um
                     relatório de estudo somente seria fundamental se as equipes dos tomadores de decisão não participassem das discussões e avaliações (pois tais equipes precisariam de
                     algum elemento para subsidiar quem vai decidir). Não é o caso, pois tais equipes participaram.” (BRASIL, 2015).
                   19  Para casos envolvendo Mobilidade Urbana e Obras Hídricas, vide, por exemplo, Acórdãos 408/2021, 2.272/2019, 605/2020, 1.345/2022 e 1.462/2022, todos do Plenário do TCU.
                   20  O custo de oportunidade é o valor do que se abre mão ao fazer uma escolha entre diferentes alternativas. Ao decidir fazer algo, estamos renunciando a outras possibilidades.





                                         O iceberg da infraestrutura: cOmO cOmbater a imaturidade, a inviabilidade e a paralisaçãO de Obras brasileiras
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