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            1.1  INTRODUÇÃO


                         Historicamente, o Brasil investe pouco em       Em um país que carece de infraestrutura em
                   infraestrutura, em média apenas 2% do PIB, percentual   todas as áreas, desde estradas e creches até hospitais, é
                   muito inferior a nações semelhantes, o que é insufi-  fundamental a implantação e o contínuo aprimoramento
                   ciente para sequer cobrir os gastos de depreciação   dos mecanismos de fiscalização e controle no processo
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                   das construções existentes (BANCO MUNDIAL, 2018) .   de estruturação de projetos para reduzir o desperdício
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                   Contudo, o pior é que o país também não investe bem .   de recursos públicos.
                   Os escassos recursos não raramente são desperdiçados ,
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                   contribuindo para o baixo desempenho da infraestrutura   Alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Susten-
                   brasileira em índices de competição, sendo apenas o   tável das Nações Unidas – ODS 9 –, que trata de desen-
                   78º colocado entre as 141 economias examinadas pelo   volver infraestrutura de qualidade, confiável, sustentável
                   Fórum Econômico Mundial em 2019 .               e resiliente, este capítulo tem como propósito oferecer um
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                                                                   exame sobre as raízes e as consequências das falhas de
                         Contribuindo para esse cenário, embora os mega-  planejamento de infraestrutura, explorando três aspectos
                   projetos de infraestrutura brasileiros sejam recorrentemente   sintomáticos que as acompanham: imaturidade, inviabi-
                   anunciados como indutores de desenvolvimento, com   lidade e obras paralisadas. Em seguida, ao analisar essas
                   grande frequência naufragam, ao longo dos anos, por imatu-  questões de forma integrada, busca-se obter uma visão
                   ridade e inviabilidade. Muitos desses são abandonados,   abrangente dos problemas e suas causas raízes e, com isso,
                   transformando o país em um cemitério de obras paralisadas.  propor cinco medidas capazes de melhorar o cenário geral
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                         A expressão “cemitério de obras abandonadas” ,   por órgãos de controle.
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                   embora soe um pouco forte, não é nem de longe exagerada,
                   visto que, segundo o Painel de Acompanhamento do Tribunal   Em linhas gerais, adota-se uma reflexão crítica,
                   de Contas da União (TCU, 2023), a maior base de dados sobre   baseada em trabalhos de auditoria, pesquisas científicas
                   o tema, uma a cada três obras federais brasileiras estão   e estudos de caso, esperando, com isso, contribuir para a
                   paralisadas totalizando 8.603 obras paralisadas, com mais   promoção de práticas mais eficientes e transparentes no
                   de R$ 8 bilhões imobilizados, sem que tenha sido gerado   planejamento de projetos, evitando, assim, a perpetuação
                   qualquer benefício à população.                 das mazelas que impactam o bolso e a vida dos cidadãos.


            1.2  AS TRÊS MAZELAS DA INFRAESTRUTURA BRASILEIRA

                   E SUAS CAUSAS


                         As três mazelas – imaturidade, inviabilidade e   e prazos e, consequentemente, para a redução da viabi-
                   obras paralisadas – devem ser enxergadas não como   lidade, o que amplia as chances de descontinuidade das
                   problemas isolados, mas como uma cascata de causas   obras. Dessa forma, tais falhas e suas soluções precisam
                   e efeitos que se avolumam, semelhante a uma bola de   ser analisadas de forma integrada.
                   neve. A imaturidade contribui para os estouros de custos




                   10  Outras fontes (INTER.B, 2023) apontam percentuais similares: 1,86% no ano de 2022.
                   11   O FMI aponta que a infraestrutura brasileira é seriamente prejudicada pela priorização equivocada de projetos, pelo custeio irrealista e pelas múltiplas emendas
                     parlamentares (FMI, 2018).
                   12   O artigo “Viabilidade em Foco: obras caras, atrasadas e com baixo retorno” (GRUBBA et al., 2017) apresenta mais informações sobre as falhas de viabilidade.
                   13  Em 2019, o Brasil ocupava a 71ª posição entre as 141 economias examinadas no Índice de Competitividade Global, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, ficando atrás de
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                     vários países da América Latina, como Chile (33 ), Colômbia (57 ) e Peru (66 ). No que tange ao setor de infraestrutura, a posição era ainda pior, ocupando a 78ª posição. Quando
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                     se comparavam especificamente a eficiência dos serviços marítimos e a qualidade de nossas rodovias, o país estava entre os piores, nas 104ª e 116ª posições, respectivamente.
                   14  O ministro Vital do Rêgo afirmou durante sessão plenária do TCU: “Hoje temos um cemitério de obras inacabadas, abandonadas e os gestores públicos mantêm o
                     permanente negligenciamento da Lei de Responsabilidade Fiscal abrindo novas frentes de trabalho em obras congêneres” (AGÊNCIA SENADO, 2022).
                   15   Ressalta-se que a situação pautada não se verifica na integralidade das obras públicas. Existem casos em que os projetos de infraestrutura são planejados e executados com
                     sucesso, independentemente do ciclo eleitoral.


                                         O iceberg da infraestrutura: cOmO cOmbater a imaturidade, a inviabilidade e a paralisaçãO de Obras brasileiras
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