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                   são “incentivados” a gastar mais do que arrecadam por   variação do gasto orçamentário antes e depois da eleição.
                   conta da eleição. Isso ocorre porque tal prática é percebida   Os déficits são acentuados antes da eleição (gastam mais
                   pelo eleitor. Já em países com baixo grau de transparência,   do que arrecadam) e depois devem ser compensados.
                   o ciclo orçamentário eleitoral é bem marcante, com alta   A Figura 1 ilustra esse comportamento.


                   Figura 1 – Influência da transparência em países de alta e baixa transparência orçamentária


                         Gasta menos do que arrecada








                                            Pré eleição


                                                                  Pós-Eleição      Tempo



                                                                                      Baixa Transparência
                                                                                      Alta Transparência


                          Gasta mais do que arrecada


                   Fonte: Adaptado  de Alt e Lassen (2006).
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                         Sem instituições de Estado com uma governança   poderão ser concluídos em outros mandatos, muitas vezes
                   robusta que promovam a transparência efetiva dos atos   de concorrentes. Para mitigar tal problema, proporemos nas
                   dos governantes (em uma linguagem inclusiva, de fácil   soluções um acompanhamento contínuo e sistemático dos
                   entendimento), existem poucos incentivos para que polí-  maiores projetos de infraestrutura, com informações claras
                   ticos estruturem projetos que algumas vezes, somente   sobre seus fracassos ou sucessos.


                   1.2.1.2  Estudo de Caso: programa logístico de R$ 100 bilhões de reais sem
                         fundamento em qualquer estudo técnico formal

                         Entre os vários exemplos de imaturidade no setor   A falta de maturidade fica clara quando o
                   de infraestrutura, o Programa de Investimentos em Logís-  referido relatório cita um e-mail de um dos gestores
                   tica em Ferrovias se destaca como um caso emblemático.   da época defendendo que não era necessário ter um
                   O PIL Ferrovias previa gastos da ordem de 100 bilhões de   documento, ou estudo, para subsidiar as decisões,
                   reais para modernizar e construir cerca de 11 mil quilômetros   apenas era necessário estudar os assuntos e que não
                   de vias férreas. Contudo, o TCU demonstrou, através do   haveria qualquer problema que o alto escalão tomasse
                   Acórdão 1205/2015-TCU-Plenário (BRASIL, 2015), que tal   decisões com base em “apresentações sucintas” (como
                   programa não era amparado em qualquer estudo técnico   as “lâminas de PowerPoint”). Além disso, ponderou
                   formal que justificasse a seleção dos trechos, os volumes   que: “Um relatório de estudo somente seria funda-
                   envolvidos e a sua modelagem econômica.         mental se as equipes dos tomadores de decisão não
                                                                   participassem das discussões e avaliações (pois tais


                   17   Para facilitar o entendimento, optou-se por modificar o gráfico retirando uma terceira curva que mostrava o valor médio entre países de alto e baixo grau de transparência.
                     Além disso, deixou-se mais claro a expressão “Budget surplus”, traduzindo por “gasta mais do que arrecada” e “gasta menos do que arrecada”.





                                         O iceberg da infraestrutura: cOmO cOmbater a imaturidade, a inviabilidade e a paralisaçãO de Obras brasileiras
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