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                   demandaram a celebração de mais de cem contratos nas   de desmatamento na Amazônia, tomando por base o ano
                   últimas duas décadas pelo Departamento Nacional de   de 2019, o que inviabilizaria o cumprimento das metas
                   Infraestrutura de Transportes (DNIT), autarquia federal   brasileiras no âmbito do Acordo de Paris. (ibid.)
                   responsável pela gestão da rodovia. Isso tem suscitado a
                   atuação do Tribunal de Contas da União (TCU) no controle   O aumento do desmatamento afetaria também
                   externo dos gastos públicos referentes à BR-319.  os serviços ambientais proporcionados pela vegetação
                                                                   nativa, em especial o regime de chuvas. A redução das
                         A proposta de repavimentação da rodovia tem   chuvas acarretará um prejuízo de mais de 350 milhões
                   gerado intensas controvérsias. Por um lado, agentes   de dólares em receitas no que toca à geração de energia
                   públicos e lideranças sociais, que defendem a obra,   hidrelétrica e à produção pecuária e de soja. (ibid.).
                   afirmam que a mesma é imprescindível para o desenvol-
                   vimento econômico da região, visto que é a única ligação   O entorno da BR-319, especialmente em sua
                   por terra de Manaus com o restante do país. Por outro lado,   porção Sul, já se encontra sob forte pressão, mesmo sem
                   organizações da sociedade civil, pesquisadores e membros   a repavimentação completa da rodovia. Cinco dos treze
                   de instituições públicas apontam para a sua inviabilidade,   municípios na área de influência da rodovia estão entre
                   dada a magnitude dos impactos socioambientais e o baixo   os cinquenta mais desmatados do país: Lábrea (1º), Porto
                   retorno econômico da rodovia.                   Velho (4º), Manicoré (16º), Canutama (21º), Humaitá (26º)
                                                                   (MAPBIOMAS, 2023). A região AMACRO, referente à divisa
                         A BR-319 engloba treze municípios e dezenas de   entre os estados do Amazonas, do Acre e de Rondônia,
                   Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs)   já é considerada a nova fronteira do desmatamento na
                   em sua área de influência. A rodovia liga o chamado “arco   Amazônia. A região concentrou, em 2022, 11,3% de toda
                   de desmatamento”, no sul do Amazonas, a Manaus. Para   a área desmatada no Brasil e 19,4% da área desmatada
                   Philip Fearnside, pesquisador titular do Instituto Nacional   na Amazônia (ibid.).
                   de Pesquisas da Amazônia (INPA), a pavimentação da
                   rodovia incentivará a chegada de atores e atividades   O processo de licenciamento ambiental da
                   associadas ao desmatamento, impactando “o último   rodovia tem sido conflituoso. Após o embargo das obras
                   grande bloco de floresta intacta na Amazônia brasileira”.   de repavimentação pela Justiça Federal, em 2005, por
                   (FEARNSIDE, 2022)                               falta de apresentação do Estudo de Impacto Ambiental
                                                                   e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), o
                         Com o asfaltamento da rodovia, o desmatamento   DNIT e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
                   no estado do Amazonas pode chegar a 9,4 mil km  por ano   Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) assinaram, em
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                   em 2050, frente ao cenário de 1.150 km  por ano sem essa   2007, um Termo de Compromisso (TAC) que dividiu a
                   intervenção. O desmatamento acumulado no período   rodovia em segmentos. Nos segmentos A (km 0 ao km
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                   alcançará 170 mil km , área quatro vezes maior do que o   177,8) e B (km 655,7 ao km 877,4) foram autorizadas
                   projetado sem o asfaltamento (SOARES-FILHO, DAVIS e   ações de “manutenção, conservação e restauração”.
                   RAJÃO, 2020).                                   No segmento C (km 177,8 ao km 250) foi autorizada a
                                                                   finalização das obras de pavimentação e reconstrução.
                         Com o aumento do desmatamento, também cres-  Já o chamado “trecho do meio” (km 250 ao km 655,7)
                   cerão as emissões de gases do efeito estufa. As emissões   deveria passar pelo licenciamento ambiental ordinário,
                   acumuladas de CO  mais que quadruplicarão, chegando a
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                   8 bilhões de toneladas. Isso equivale à emissão de 22 anos






















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