Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas

O perito Bruno Salgado, do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, foi um dos palestrantes no painel sobre “Obras rodoviárias”, trazendo o tema “Perícias em obra de arte especial”.

Especialista em estruturas, Salgado destacou o papel estratégico das perícias técnicas para a segurança e a durabilidade de pontes e viadutos brasileiros, citando exemplos recentes de investigações conduzidas pela Polícia Federal.

Durante o painel, o perito apresentou três casos emblemáticos: a ponte Getúlio Vargas (BR-101, Linhares-ES), a ponte sobre o rio Curuçá (BR-319, Careiro da Várzea-AM) e a ponte JK (BR-226, Estreito-MA/Aguiarnópolis-TO).

“A perícia da Polícia Federal é acionada sempre que tem algum recurso federal ou repercussão nacional, e em cada um desses trabalhos, buscamos documentar desde o histórico de construção e manutenção da ponte até a vistoria do local do sinistro e a identificação das causas do colapso da estrutura”, relatou.

 

 

Ponte sobre o rio Curuçá

No caso da ponte sobre o rio Curuçá, que serviu como destaque da apresentação, Bruno detalhou pontos cruciais do processo investigativo.

Construída há cerca de 50 anos, a ponte enfrentava problemas crônicos de alagamentos sazonais, erosão nos aterros de acesso e constantes manutenções corretivas.

Em setembro de 2022, moradores denunciaram um afundamento preocupante na pista, motivando uma intervenção emergencial para nivelamento. No dia seguinte, o tráfego de veículos pesados foi limitado, mas, em 28/09/2022, um protesto com caminhões sobre a estrutura resultou em colapso em pouco tempo.

A estrutura original da ponte inclui fundação em estacas metálicas apoiadas por blocos, seis conjuntos triplos de pilares e tabuleiro de concreto armado. Relatórios de inspeção anteriores foram considerados superficiais: uma vistoria chegou a ser feita durante a cheia, impossibilitando uma avaliação adequada das condições estruturais.

A análise técnica do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), contratada pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para apurar os motivos do desastre, identificou erosão agressiva sob pilares e forte carreamento do solo, fatores que expuseram as estacas à ação da água e culminaram em flambagem e rompimento das fundações.

“A correta avaliação estrutural é fundamental para garantir a durabilidade e a segurança das obras, além de contribuir para a prevenção de acidentes”, reforçou Salgado. Ele destacou o uso de métodos avançados, como estudos hidrodinâmicos, ensaios de campo e modelagem computacional, práticas que devem ser rotina diante do envelhecimento da malha de pontes brasileiras, já que 60% delas têm mais de 30 anos.

A troca de experiências durante o painel reforçou o papel das perícias estruturais para a prevenção de tragédias e para assegurar a evolução das boas práticas na gestão de obras públicas.

 Texto: Adríssia Pinheiro (TCE-AM)

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